Passou o Natal e tuga não bazou para a Ponta do Ouro, para o Bilene ou para Inhambane, nada! Tuga que é tuga foi para a tuga! Foi passar o Natal à terra, a consoada com a famelga.
Dentro do avião as hospedeiras não smilam, estão de trombas. E logo que chega ao aeroporto tuga, tuga não sente frio, tem um briol do caraças!
Tuga chega e gaba-se das gajas de Maputo e queixa-se dos c... dos pretos. Enfim, arma-se em carapau de corrida. Sim, porque tuga acha que em mocambique é boss, e não tem dama, tem gajas!
Tuga acorda de manha e lá fora não chove, borrasca, no chão não há poças de água, há lameiros e ele não tropeça, entropeça! E embora tenha fome não mata o bicho, toma um pequeno-almoço.
Sai de casa e não dirige, conduz, e não vira o volante, destroce.
Esta’ atrasado mas tuga não spida, vai a abrir.
Tuga não vive 24horas, vive 12horas duas vezes. Por isso às 2 - e é preciso acrescentar “da tarde” – almoça.
Depois do almoço tuga nunca está pronto, está prontos! Toca o telemóvel e tuga não ouviu, óviu. Tuga atende o celular, mas não é a fofa, é a pucurrucha.
Na tuga há crise por isso o tuga tem carro novo, tem plasma, tem celular com fotos, vídeo e internet, tem portátil, tem calças Timberland e pullover Boss. Mas tuga sofre, porque “a vida não tá fácil para ninguém”. Por isso tuga não fica zerado ou sem taco, tuga tá sem guito, sem papel, sem dinheiro, então tuga diz que tá teso (moçambicano não usa isso de ficar teso, quando tá teso vê-se!)
Tuga nao diz r, nem rr, diz rrr: por isso tuga sai do carrro a corrrer.
É noite e tuga não tacha, morfa. E depois não organiza coisas, orienta cenas.
Vai visitar os amigos e tuga não anoitece, faz serão. Tuga não avisa que tu hás-de, tuga avisa hades! Tuga não sabe nós, sabe agente.
Tem night na disco e tuga não surge, tuga sai à noite. E na tuga não há músicas a bater, há músicas a bombar.
E tuga não leva a mais nova, tuga leva a caçula.
E na disco tuga não aprecia, tuga incomoda. E da dama, tuga não acha que tem boas, acha que é boa como o milho, o carapau, o bife, a febra.
Tuga não dança, tuga tropeça, e não fica jazz, embebeda-se. Tuga não spida acima de 120km hora porque não é politicamente correcto. E se é apanhado tuga não dá refresco a cinzentinho, mas tuga aquece a mão ao chui.
Tuga volta para casa da dama mas tuga não tá together, tá junto. Tira a roupa e não se manda para cima da cama, tuga amanda-se. E tuga lamenta-se porque não tem destino, tem fado.
Dama pergunta onde esteve e tuga não dá baile, dá ofensa.
Mas é mentira na tuga à noite não tá frio, tá grizo!!
Dia seguinte tuga não fica off, tem preguicite.
Tuga não djoba, labuta. E não gazeta, falta, porque não fica incomodado, fica inconfortável.
Dia dos namorados dama quer fazer um programa romântico e tuga não acha complicado, acha uma pimpineira. Tuga não diz “não é” diz “então vá”. Bradas desafiam para programa de homem e tuga não é matreco, é careta.
Leva flores para dama mas tuga não deu cabeçada, tuga gamou.
Escolhe a roupa branca e vermelha mas tuga não estila, arma-se.
Não bebe laurentina preta, bebe imperial.
Depois do jantar tuga não vai embora, pisga-se. E para dama não zangar tuga não baba, engraxa.
Com os bradas tuga não esta chato, atrofiou.
Dama queixa-se mas tuga não é vadio, é galdério.
E os bradas queixam-se mas tuga não é parado, é cromo.
Tuga não groova, tuga tá em crise.
Tuga não é armado em bom, é armado em carapau de corrida. E na night não showoffa, tuga arma-se aos cucos.
Tuga não é nice, tuga é bacano.
Tuga não diz “ysh”, diz “que cena!”, “brutal”.
Tuga não conta boas, conta novidades. Não diz maningue, diz altamente.
Com tuga nunca está tudo maningue nice, tuga vai-se andando.
Final das férias tuga não despede tata, despede adeus.
E na despedida tuga não amassa dama, não agarra bunda, tuga apalpa rabo.
E logo que entra no aviao tuga não conquista, engata.
Estão a servir a refeição e tuga não é confuso, complica.
Mal regressa a África tuga queixa-se do tuga, que é saloio, que tudo é bué caro...
Ah! E tuga não é tuga, é PORTUGUÊS!
Textos publicados no jornal @verdade e CartasDeMozambique publicados no Jornal SOL (sob pseudónimo Filipa Germano)