A primeira vez que o vi, estava no Cartório Notarial.
Mesmo na presença de um agente, ele não se sentiu incomodado.
A única pessoa incomodada naquele espaço era eu.
Senti-me sufocada o tempo todo com a presença de um ser que nunca vi e que nem me deixava respirar. Evitei estar nas salas de espera com pouca gente.
Mesmo assim, ia a um lado, tinha o emplastro sempre ao meu lado, parecia lapa.
O que menos esperava era que ele me tocasse no braço sem ter nada para me dizer.
Arrepiei-me toda e fiquei ainda mais tensa.
Só não gritei com ele, porque, não sou apologista de escândalos, ainda mais num espaço público.
Olhei fixamente nos olhos dele e disse-lhe: - Se me volta a tocar, arrependerá.
O dito cujo esboçou um sorriso na fronha, como se nada fosse.
Chegou a minha vez de ser atendida: suspirei de alívio, mas continuava nervosa.
Estava redondamente enganada quando pensei cá para mim: demorei no atendimento, ele já deve estar a milhas.
Mal saí do espaço de atendimento, vi o filho da mãe plantado na porta, parecia um garrafão de azeite.
Com tanto nervo, “montei num burro mouco” e fui em direcção à porta de saída.
Ouvi grunhidos atrás de mim e apressei o passo sem olhar para trás.


Maldito dia, maldita hora em que decidi ir recarregar o cartão na papelaria.
Vi-o de longe, esfreguei os olhos, voltei a ver e….o ganso aqui na zona?
O que está ele a fazer aqui? Da outra vez tinha “as antenas” ligadas para certificar-me que ele não iria seguir-me até chegar à casa.
Virei a cara para o lado quando ele se aproximou.
Numa insistência forçada, ele vira-se para mim:
- Lembro-me muito bem de ti. Sabia que te encontrava novamente.
Eu: - Mas, conhece-me de algum lado para andar a seguir os meus passos?
Com tantas Mulheres por aí, porque não as vai incomodar?
Ele: - Não a conheço, mas gostei muito de si.
Você tem uma aura muito bonita e gostaria que fosse ao meu consultório para falar consigo.
Eu: - Seja mais preciso, não estou a  perceber onde quer chegar com esse seu discurso a Homem do leite.
Ele: - Eu sou médium, trato as pessoas com mau olhado, problemas de amor, saúde, sexo e faço amarrações.
P… que pariu. Estou metida numa increnca  feia.
Eu: - Você pode ser bruxo, pode fazer 1001 coisas, a mim não me interessa.
Este mundo está lotado de estelionatários e seres a maquinarem o mal contra os outros.
Virei-lhe as costas e entrei na papelaria.
Ele entra atrás de mim e ouço novamente grunhidos: - Só não fico aqui à sua espera porque vou dar aulas e estou atrasado.
Respondi-lhe num tom normal, sem me preocupar com as poucas pessoas que lá estavam:
- Vá sim. Vá pela sombra e para o diabo que o carregue.

Ele sorri e sai.

Dias depois, fui à frutaria e, na vinda reparei no anúncio de um antigo espaço onde era cabeleireiro.
Sai daí um rapaz e entrega-me um pequeno panfleto.
No panfleto estava o nome do bruxo e o anúncio do mesmo.
Quase espumei. Senti que suei a minha ira naquele pedacinho de papel, amolgando-o com toda a minha força e….pimba.
Visto que sou muito ecológica, preferi não puxar um pé atrás com uma subtileza degradante, fazendo voar uns 10 metros o papel do bruxedo.
Meti-o no caixote do lixo, mesmo à frente do ajudante do bruxo.
Continuei o meu percurso até à casa.
Ao atravessar a estrada, ouço….Psiuuuuu, psiuuuu.
Olho para trás e, lá está o macumbeiro atrás de mim a estalar-me os dedos e a fazer “psiu”.

Ó foda-se: disse em voz baixa.

Apressei os passos e desviei-me do caminho da ida para casa.
Achava que ele não estava a seguir-me, até que dei a volta a um prédio vizinho e, quando virei-me, estava ele a uns metros de distância a seguir-me com os olhos.
Nas traseiras do prédio, corri como se não houvesse amanhã, sempre a olhar para trás, correndo o risco de bater de frente contra um carro parado.
Cheguei às escadas e tinha o coração aos saltos, mas, mesmo assim não desisti da corrida.
Fiz uma gincana enorme para entrar no prédio sem que o bruxo me visse.
Ele é um psicopata, com cara de quem foi ao inferno e beijou o diabo na boca.
Vê-se nos olhos, na presença, que há algo de mal nele (pudera, com tanto mal que faz para prejudicar os outros, não era por menos).
Nesse dia, não preguei os olhos a noite toda, achando que ele poderia fazer algum mal contra mim.
Orei a Deus como nunca havia orado, passei a ler um capítulo da Bíblia todos os dias e dormir com ela (a Bíblia) na banquinha de cabeceira.
Mudei o meu percurso, desde a ida à padaria, ao supermercado, até deixei de ir à papelaria.
Senti-me (e sinto-me) aterrorizada com esta situação, mas, desde que esteja longe do olhar do macumbeiro, estarei sempre aliviada.

★Estrela Solitária★

 

 

2 comentários:

Lord Byron disse...

Nunca mudes o teu caminho por nada, nem ninguém!!!
Quando Deus manda os seus anjos… o Diabo manda-me a mim!!!
Pois, adultos com amigos imaginários são estúpidos e nada como uma estupidez para combater outra!!! E o único poder que essa gente tem sobre ti é exactamente o medo que tu tens deles (do mau-olhado, da macumba).

Lord Byron

Estrelinha Solitária disse...

Lord Byron,

Saudades de ler de ti.
Ainda não me apresentaste o novo espaço. Ficarei à espera (expectante).
Já combati os meus medos.
Aliás, da última vez que fiz outro percurso para chegar à padaria, acabei por dar de cara com o macumbeiro mesmo ao pé da padaria.
É claro que evito passar perto de onde ele costuma estar.
Já não tenho insónias, pensando que ele poderá fazer algum mal contra mim.
Continuo a ler a minha Bíblia todos os dias, além de orar.
Sinto-me muito bem.

Beijo Estrelado. :-)